Episódio 34 – Vito permite a entrada de Sunglasses

Enrico repetiu:

Enrico – Vito. Uma mulher está à porta. Disse que se chama Sunglasses. Ela insistiu que eu a anunciasse.

Vito olhou para Carlo, que estava paralisado. Achou que nunca mais veria sua amada esposa. Mas também teve receio de vê-la novamente.

Vito – Mande-a entrar, Enrico. Traga-a até aqui.

Carlo – Onde vou me esconder, Vito? Bianca? Vidente?

Vito – Você vai ficar exatamente onde você está. Se a sua esposa resolveu reaparecer, e logo aqui, deve haver algum motivo. E não posso simplesmente mandá-la embora. Pode ser que ela tenha algo a dizer.

Carlo – Dizer o quê? Que ela foi chutada por algum estrangeiro? Que ela quer voltar aos braços do panaca aqui?

Vito – Cale a boca! É uma ordem! Você está fora de si! Cale a boca, seu desgraçado!

Vito chacoalhou Carlo, e gritou com ele, embora sentindo uma culpa profunda por falar assim com o amigo. Mas era necessário, pois Carlo estava fora de si. Enrico saiu da biblioteca, e foi buscar Sunglasses que ainda esperava à porta.

Enquanto os quatro estavam na biblioteca, Enrico chegou à porta da casa de Palermo, e disse a Sunglasses que podia entrar. Ela disse:

Sunglasses – Carlo está bem?

Enrico – Como a senhora sabe que Carlo está aqui?

Sunglasses – Caro Enrico. Sei seu nome também. Mas esclareceremos tudo na biblioteca.

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Continua no próximo episódio.

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Episódio 33 – A simplicidade redescoberta

Bianca e Vito Testafredda. Este casal de chefes de cozinha, nascidos em Palermo, cultos e informados, viviam uma vida de sucesso no Brasil. Abriram, em São Paulo, a Trattoria Testafredda, onde muitos freqüentavam, desde desconhecidos até celebridades. Todos eram amigos. Todos se sentiam parte da família Testafredda, porque Bianca e Vito queriam que se sentissem assim, desde o momento em que pisassem na calçada da Trattoria.

O casal vivia em um apartamento enorme e luxuoso, confortável e bem decorado. Viveram assim durante anos, até que enfrentaram uma pequena crise, que se resumia a isto: não tinham tempo para si mesmos; não tinham tempo um para o outro. A vida deles era apenas azeite, panela, licor Strega, charutos, mesas, garçons, sobremesas. Eram pedidos, vinhos, conversas, noites em claro. Para quê? Para bem servir.

Fizeram fortuna, é evidente. Mas, quando começaram a ficar conscientes do que se tinha tornado suas vidas, resolveram abandonar tudo, e partir de volta a Palermo. Foi o que fizeram. A Trattoria continuou funcionando, sob os cuidados de Zio Pepe e Zio Gino. Desde que voltaram, estão confusos. Eles pensavam que a volta a Palermo seria algo relaxante e curativo. Mas, ao chegarem, não conseguiram encontrar a Palermo de outrora. Por isso é que permaneceram confusos. Além disso, o casal sentia falta de alguns amigos íntimos, como Cláudia o é para Bianca, e Juvenal o é para Vito.

Esta noite, no entanto, tudo mudaria. Bianca reencontrou a caixinha misteriosa que havia ganhado de Vera Gonçalves, a crítica de culinária, por causa de quem sentira ciúmes de Vito (sentimento não de todo superado). Na caixinha havia uma receita de bolo, das mais simples. Na biblioteca da casa do casal, em Palermo, estavam reunidos Bianca, Carlo, a Vidente e Vito. Este tirou uma surpreendente conclusão sobre a receita: se ninguém mais fazia um bolo tão simples, é porque o mundo se esqueceu da simplicidade. Todos ali concordaram com o pensamento de Vito. Na verdade, o pensamento foi de todos ali, tendo Vito apenas o verbalizado.

Desta simples receita, e da conclusão de que faltava simplicidade, o casal relembrou o que de fato a vida significava para eles. Quando eram crianças, corriam em Palermo, por ruas estreitas, sonhando em serem cozinheiros. Quase tudo o que aprenderam podia ser relacionado aos alimentos que aprenderam a preparar. O casal se perdeu de si mesmo por um tempo, mas permaneceu unido. Agora, reencontraram o que de fato deveria constituir seu estilo de vida: a simplicidade.

Houve lágrimas, abraços e beijos, na biblioteca. Já estava amanhecendo. Enrico surgiu discretamente na porta da biblioteca e esperou até que Vito olhasse para ele. Quando Vito se voltou para Enrico, fez uma expressão alegre, como se falasse “diga!”. E Enrico disse:

Enrico – Há uma mulher à porta. Diz que se chama Sunglasses.

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Continua no próximo episódio.

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